domingo, 15 de maio de 2011

Nordestinos por eles mesmos

Mais um depoimento da série "Nordestinos por eles mesmos". Dessa vez contaremos com o depoimento da maranhense Leny Barros que atualmente vive em Portugal!


Migração. Fonte: Pote Nordestino


Qual o seu nome e sua cidade natal?

Leny Barros - nasci em Viana – Estado do Maranhão.

Quando você chegou a São Paulo? Por que veio?

Cheguei à cidade de São Paulo em 1986. Vários motivos contribuíram para minha ida para São Paulo... Talvez fosse mesmo o destino ou coisa parecida que me guiou até essa cidade. Vou contar uma pontinha da minha infância, quando tinha 4 anos, minha mãe faleceu, fui morar com a meus avós paterno numa fazenda, porém lá não havia escola. Mais tarde tive que morar na casa de um tio para estudar, pois já tinha 11 anos e não era totalmente alfabetizada. Resumindo, costumo classificar a minha vida como intensa e caótica, mas isso só me deu forças para continuar de cabeça erguida, pois morei com meu tio e sua esposa até os 19 anos, pois não queria depender mais deles, havia vários motivos para isso. Queria continuar meus estudos e trabalhar ao mesmo tempo, esses foram os meus principais motivos para me aventurar em São Paulo.
  
Qual foi sua primeira impressão ao chegar a São Paulo? Correspondeu às suas expectativas?

No início foi muito difícil, pois não tinha experiência em nenhuma área de trabalho, por isso, quando cheguei fiz faxina em algumas casas, além de fazer acompanhamento escolar para alunos que tinham dificuldades em disciplinas como matemática, física e português. Nessa época, estudava direto para fazer vestibular e de certa forma tinha certa facilidade com essas disciplinas o que me ajudou muito, era sempre mais uns trocados. O tempo que estive em São Paulo foi muito produtivo para mim em vários aspectos, o que sentia muito era saudades das minhas irmãs que moravam em São Luis. Em São Paulo tive a oportunidade de estudar o curso de Letras – Português-Inglês, além de conviver com pessoas excelentes que acrescentaram muito para minha evolução como ser humano, portanto, considero que foi muito positivo para a minha formação, costumo dizer que faria tudo novamente....

Bandeira do estado do Maranhão. Fonte: Imasters Fóruns

 Como foi recebido?

A princípio fiquei na casa de uma conhecida durante uma semana para procurar um lugar para ficar. Depois com os bicos que fazia, logo procurei um local para me organizar melhor, consegui uma vaga num pensionato da igreja católica, lá moravam pessoas de vários locais do Brasil principalmente de Minas, Blumenau e interior de São Paulo, pois de nordestina havia apenas eu naquele momento. No início, foi desagradável, pois a maioria das moças se sentia superiores ou porque tinham um trabalho num banco, um curso superior ou mesmo porque tinham um namorado que tinha dinheiro, essa era a mentalidade! 

Já sofreu algum tipo de preconceito por ser nordestino?

Isso é quase inevitável, mas nunca dei importância a isso, sempre achei e continuo achando que atitudes que ofendam os outros sempre vêm de pessoas muito frustradas e infelizes por algum motivo, hoje não tenho dúvidas disso. Lembro-me de um acontecimento no pensionato, sempre gostei de tocar violão nos finais de semana, pois lá tinha um espaço que se podia fazer isso, mesmo porque o padre gostava muito de tocar violino também. Quando tocava o violão tinha um grupo de moças que dizia: “Só pode ser nordestina mesma, também eles só têm dinheiro para comprar um violão, instrumento barato, vê se tem um piano ou mesmo um violino, também é só para rico”. Costumava escutar essas asneiras e ficava quieta, pois achava de tamanha insignificância que nem fazia comentários, estava mais preocupada em aprender o que não sabia. E tantas outras situações que aconteceram no trabalho, universidade, apenas costumava dizer: “Vou fingir que você não me ofendeu”, e seguia meu caminho, pois achava que discutir ou mesmo ficar chateada não resolveria nada, só me isolaria mais, pois de certa forma tive que lidar com as diferenças até mesmo sem me dá conta, uma vez que esse assunto não estava tão em moda como hoje.

Como você se vê? Como vê a cultura nordestina? Como vê a contribuição do nordestino e de sua cultura em São Paulo?

Percebi que o conflito nos faz crescer, viver é simplesmente uma luta constante, costumo dizer que sobrevivi e me sinto feliz por isso, afinal de  contas, consegui passar nas provas dessa etapa da minha vida. Hoje me vejo uma pessoa que luta, sobretudo para ser melhor a cada dia como ser humano, pois essa é uma das tarefas mais difíceis que o ser humano tem que enfrentar na vida, pois assim que me vejo, busco sempre o  conhecimento para me libertar, ser realmente livre!!!... Acho que não há coisa melhor...
Vejo a cultura nordestina riquíssima, pois a mistura de vários povos, cada um com seus costumes, essa mistura deu um novo conceito ainda mais rico e, isso faz a diferença, na verdade, somos o que somos e isso é maravilhoso! O povo nordestino contribuiu e continua contribuindo em vários aspectos para a cultura paulista, principalmente nos trabalhos que requerem mais esforços, como é o caso das construções dos prédios, metrô, avenidas, entre outros.... Pois, não só em trabalhos pesados os nordestinos estão ligados, mas também nos trabalhos intelectuais, acredito que se fosse comentar sobre isso escreveria folhas e folhas, mas não seria o caso.....

Bom querida, espero que eu tenha contribuído para o seu trabalho. Boa sorte!!!! Leny

E como contribuiu Leny! Muito Obrigada!

3 comentários:

  1. Gostei de ler o depoimento da Leny e ver que, apesar de tudo, ela conseguiu superar as dificuldades.

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  2. lembrei da música chiclete com banana, fiquei curioso pra saber sobre como foi a o relação dos instrumentos comuns de corda, porém um da rica e outro da pobre, conta mais pra nós...

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  3. gostei vai ajudar no trabalho de geografia

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